Os dias em que o Brasil parou
Bloqueios em rodovias, postos de combustíveis sem abastecimento com filas enormes e comércio em geral sem reposição nas prateleiras. Esses foram alguns dos cenários da última greve dos caminhoneiros, que parou o Brasil, entre 21 de maio e 01 de junho de 2018. Os motoristas fizeram algumas reivindicações que foram atendidas naquele momento, por exemplo o congelamento do preço do diesel, ainda que em caráter temporário.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Alguns veículos de renome, como O Estado de São Paulo, noticiaram uma nova movimentação para organizar outra paralisação no dia 30 de março ou no começo de abril de 2019. Dessa vez, a categoria reivindicaria a resolução de questões ainda pendentes da greve do ano passado, além de cobrar uma fiscalização mais ostensiva para o que já está em andamento, como o cumprimento da Tabela da ANTT.
Saiba mais:
Tabela de frete da ANTT: O que está acontecendo agora?
O que dizem os sindicatos
De acordo com entidades que representam os caminhoneiros, principalmente os autônomos, tudo ainda é especulação. Mesmo assim, transportadores e representantes sindicais não deixam de ficar em alerta.
Nenhum representante formal da categoria se manifestou formalmente sobre o assunto ou confirmou a greve, mas todos estão atentos aos comentários que não param de chegar nos grupos de WhatsApp.
De acordo com Norival de Almeida Silva, presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo (SINDICAM-SP) e da Federação dos Caminhoneiros de Carga em Geral do Estado de São Paulo (FETRABENS), este tipo de movimentação aleatória e vinda de redes sociais inclusive prejudicam os sindicatos, que acabam responsabilizados injustamente. Ele afirma:
“A Fetrabens e o SINDICAM-SP, não estão movimentando uma nova greve dos caminhoneiros e também não acreditam que a mesma seja concretizada nos próximos dias”
Além disso, Norival comenta que até o momento não houve motivo para descredibilizar as concessões feitas pelo governo após a última greve, já que todo o processo ainda tramita no Supremo Tribunal Federal.
Caminhoneiros e a movimentação nas redes sociais
Não há dúvidas de que o ambiente digital foi um grande aliado dos caminhoneiros na disseminação e força da greve anterior. Com acesso à internet no celular foi possível acompanhar em tempo real, todas as movimentações pelo país. Hoje são muitos os perfis e grupos presentes nas redes sociais e com isso, o aparecimento de boatos e suspeitas desse tipo de movimentação é inevitável.
No início desta semana, algumas páginas no FacGuia completo administradas por caminhoneiros, chegaram a publicar enquetes para checar quem é “contra ou a favor da greve”. Os resultados demonstram que a maioria não se mostra disposta a aderir, pois acredita e espera resoluções para os pontos que foram firmados com o Governo, em 2018.
O que pensam alguns caminhoneiros
O caminhoneiro Antonio Emídio aderiu à greve em maio do ano passado, mas hoje é um dos que não concordam que a categoria deva parar novamente. Segundo ele, ainda há muitos assuntos das solicitações passadas que estão no prazo para serem realizadas:
“Eu sou contra uma paralisação neste momento, porque nós conquistamos muitas coisas naquela situação como a instituição do piso mínimo do frete e hoje temos a Lei 13.703, que as transportadoras devem respeitar. Precisamos aguardar as resoluções de acordos que foram combinados com o Governo anterior. Enquanto houver condição de conversa e negociação, eu não vou aderir a uma greve me deixando levar por pessoas que têm outros interesses e intenções”, reforça ele que tem 20 anos na estrada.
Já Fábio Simões diz não ser contra nem a favor.
“Algumas conquistas aconteceram ano passado como a questão do eixo suspenso sem pagamento de pedágio. Porém, o piso mínimo dos fretes está sem resolução, pois mesmo sendo obrigatória por Lei, ainda não é cumprido e falta fiscalização dos órgãos competentes. Com isso acaba favorecendo os embarcadores e colocando os autônomos em situação ruim. Por isso eu digo que pra mim será indiferente se ocorrer a paralisação!”, pontua o caminhoneiro.
Ele, que era autônomo em 2018, ainda conta que não trabalhou nos dias da greve e foi muito prejudicado: “Eu não consegui arcar com as parcelas do caminhão, que agora está encostado porque hoje sou motorista em uma empresa. Para mim, essa questão da greve que foi realizada ano passado me prejudicou e atrasou a minha vida. Espero que as coisas se resolvam da melhor forma e sem prejudicar ninguém”, conta.
O posicionamento das empresas
Sindicatos que representam as empresas não concederam entrevistas ou emitiram notas por encararem as últimas notícias como “rumores”. Mas, diante de toda especulação, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), que representa o setor de transportes e logística como um todo a nível nacional, divulgou uma nota oficial em 27/3 que trata sobre os reajustes do diesel e consequentemente, custos de frete. Nesta nota, há algumas considerações sobre uma nova greve.
A Confederação Nacional dos Transportes avalia que não há sinais de apoio popular a um movimento grevista
Destacamos as considerações do presidente da entidade, Vander Costa, abaixo:
“A CNT vem acompanhado, pela imprensa, notícias de uma tentativa de mobilização de carreteiros por parte de algumas pessoas que se apresentam como lideranças. Vander Costa avalia que, neste momento, não há sinais de apoio popular a um movimento grevista, como se viu na paralisação de 2018.
Ele adiantou que, caso ocorra a greve de caminhoneiros autônomos, mas o governo garanta a segurança dos caminhões que continuarão trafegando, as empresas manterão a frota nas estradas. “Vamos rodar para garantir que não haja desabastecimento”.
Empresas buscam saídas para driblar os impactos da Greve dos Caminhoneiros
Postos de combustíveis fechados, problemas com transporte público, falta de alimentos e produtos para suprir prateleiras do comércio, cancelamentos de vôos nos aeroportos e atrasos nas entregas de produtos e serviços. Esses são apenas alguns dos impactos sentidos pelos brasileiros e por empresas de todos os segmentos, por conta da greve dos caminhoneiros, que chega nesta quarta-feira (30) ao seu décimo dia.
Para evitar os prejuízos e minimizar os efeitos sentidos neste momento, a Cobli – startup especializada em gestão de frotas, telemetria e roteirização – compilou informações fornecidas por clientes e parceiros com soluções criativas que eles estão usando para driblar essa crise. São elas:
- Alugar carros de passeio para entregas de baixo porte (pequenos volumes), uma vez que veículos alugados geralmente vem com o tanque cheio
- Preferir pelo uso de motos, devido à maior eficiência energética
- Priorizar as entregas/serviços com maior impacto rentável para a empresa
- Reduzir jornada de trabalho e promover revezamentos de técnicos e/ou motoristas, a fim de economizar combustível
- Utilizar o trânsito no Waze ao redor dos postos de combustíveis para identificar se há o produto
Apesar das soluções levantadas por nossos parceiros e clientes, ainda há empresas que estão com as frotas paradas, seja pela escassez de combustível, ou por precaução.
Uma análise feita pela Cobli, ilustra a situação. Veja a seguir um gráfico que mostra a média de quilômetros dirigidos nos últimos dias. O levantamento foi realizado com base em dados compilados dos dias 11.05 à 24.05:
Nestes casos, a indicação é aumentar ainda mais a comunicação com o cliente, principalmente aqueles que vão sofrer atrasos de entregas e serviços, para mantê-los atualizados da situação da empresa e das previsões de andamento das entregas e/ou serviços.
E você? Tem mais alguma dica ou ideia que você está fazendo para operar o melhor possível durante a greve dos caminhoneiros? Mande para nós, que compartilharemos com todos da Comunidade Cobli.
E agora?
Por mais que as principais entidades do setor neguem a organização de uma nova greve, o Brasil hoje tem 60% do transporte de cargas feito pelo modal rodoviário e, consequentemente, uma alta dependência de caminhões e carretas. Qualquer paralisação, ainda que em menor escala do que se comparado a 2018, poderia causar prejuízos econômicos e sociais impactantes. Por isso, estaremos atentos acompanhando e atualizando os passos mais relevantes dessa discussão.
A falta de combustíveis na greve
Ao falarmos do ocorrido, não há como nos esquecermos das filas nos postos de gasolina. Com os bloqueios nas estradas, nem mesmo os caminhões que vinham das refinarias conseguiam chegar até os postos para o reabastecimento. Com isso, a população começou uma verdadeira “corrida do ouro”. Houve casos de pessoas que estocaram o combustível em galões, dentro de casa.
Alguns estabelecimentos não davam conta deatender todos os clientes e acabaram sendo alvos até de vandalismo. Segundo José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (SINCOPETRO), alguns postos também foram muito impactados e, um ano depois, alguns deles ainda sentem o prejuízo. “Foi um movimento que todos entenderam e não tínhamos nada contra. Realmente era um problema que eles estavam discutindo e que era válido, mas isso nos prejudicou muito e até hoje estamos tentando nos recuperar. Teve posto de gasolina que não conseguiu se levantar. A categoria ainda está em recuperação e sentindo os reflexos. Vamos precisar de mais um bom tempo para a retomada”, conta.
O presidente do SINCOPETRO também conta que, naquela ocasião, o combustível realmente estava em falta nos estabelecimentos: “Os postos pararam por quase 15 dias e não tínhamos produtos. Até repor os estoques foram mais cinco dias. Para nós, foi um prejuízo monstruoso que ficou por isso mesmo. Todos se preocuparam com os caminhoneiros, mas não eram só eles. Tínhamos distribuidoras que não conseguiam carregar e os postos de gasolina que não recebiam o combustível. A culpa não era do posto, que estava aberto para vender.”, explica.
Conquistas e impactos
Ao final da greve, 11 dias depois, o Governo atendeu as principais reivindicações dos caminhoneiros, entre elas a fixação de valor para o diesel, durante um período, a criação da Lei do Frete Mínimo e a isenção de pagamento de pedágio para caminhões com eixos suspensos (sem carga).
“Os caminhoneiros estão no direito deles de pleitear melhores condições. Ao mesmo tempo, eles têm uma responsabilidade com o desenvolvimento nacional e precisam colocar na balança: uma vez que eles prejudicam esse sistema econômico, também serão atingidos. Já tiveram a constatação do poder e da força, na greve passada. Logo, eles têm um desafio para entender melhor essa situação para não perderem o apoio da opinião pública”, aponta o professor de Logística, da ESEG.
Anúncio do Governo
No dia 16 de abril, o Ministério de Infraestrutura apresentou, por meio de coletiva de imprensa, um conjunto de medidas em benefício dos caminhoneiros autônomos. Entre melhoramentos estão linhas de crédito de R$ 30 mil, criação de nova tabela de fretes, fomento para cooperativas e R$ 2 bilhões que serão destinados para obras e manutenção das rodovias.
Diante de muitos impactos e movimentações, os especialistas foram unânimes em reforçar que, antes de iniciar qualquer tipo de paralisação, o diálogo é a ação mais importante para que não haja perdas em lado algum.
*Por Mônica Silva
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